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19/02/2016 09h53 - Atualizado em 19/02/2016 09h55
Nota da AJE-Brasil sobre o vírus zika e a microcefalia
1. A AJE-Brasil (Associação
Jurídico-Espírita do Brasil) posiciona-se contrariamente à proposta de
se estender as hipóteses de aborto legal às mulheres grávidas infectadas
pelo vírus zika, como forma de se evitar o nascimento de crianças que
possam vir a sofrer de microcefalia, como vem sendo reivindicado por
parcela da imprensa e da sociedade civil. E assim o faz por diversas
razões:
• o aborto é contrário ao fundamental
direito à vida e encontra suas excepcionais hipóteses previstas
restritivamente em lei e num específico caso de construção
jurisprudencial;
• a microcefalia não é incompatível com a vida, embora possa acarretar deficiências, tal como sucede em diversas outras síndromes;
• a autorização para a prática do aborto com base em mero prognóstico é medida que afronta a leitura restritiva que há de ser feita das hipóteses legais de abortamento;
• a autorização para a eliminação da vida como modo de se evitar o nascimento de criança com deficiência é medida de eugenia que contraria os princípios constitucionais da dignidade da pessoa humana e da solidariedade.
• a microcefalia não é incompatível com a vida, embora possa acarretar deficiências, tal como sucede em diversas outras síndromes;
• a autorização para a prática do aborto com base em mero prognóstico é medida que afronta a leitura restritiva que há de ser feita das hipóteses legais de abortamento;
• a autorização para a eliminação da vida como modo de se evitar o nascimento de criança com deficiência é medida de eugenia que contraria os princípios constitucionais da dignidade da pessoa humana e da solidariedade.
2. Por outro lado, a AJE-Brasil apela às
gestantes que tenham sido infectadas com o vírus zika para que mantenham
a gravidez e recebam seus filhos com amor e dedicação, ainda que
acometidos de alguma deficiência.
Compreende-se a dor e a aflição da
gestante e do pai diante da notícia de um possível diagnóstico de
microcefalia do filho, o que lhes exigirá a superação do equívoco de que
apenas as vidas perfeitas valem a pena ser vividas; e lhes despertará
para o intenso amor que demanda maior dedicação e entrega à delicada
criança, numa experiência de singular sensibilidade.
3. Ademais, diante do aumento de casos de
crianças com microcefalia, a AJE-Brasil concita a sociedade brasileira
como um todo, e os poderes públicos, em particular, a adotarem
providências que garantam o necessário apoio material e moral às
gestantes e seus companheiros, para que bem possam levar a termo a
gravidez. E também a adotarem providências efetivas que garantam a
atenção e o desenvolvimento das crianças com deficiência.
Cabe ao Poder Público, em suas três
esferas de ação e de acordo com as atribuições constitucionais de
competências, fortalecer, com urgência, a rede SUS para acolher as
gestantes infectadas pelo vírus zika, garantindo-lhes pré-natal e parto
com as especificidades inerentes a tal situação, bem como assegurando às
crianças que vierem a nascer com eventuais deficiências decorrentes de
microcefalia, por meio de eficiente Rede de Apoio Psicossocial,
atendimento médico, psicológico, terapêutico e fonoaudiológico
necessários e efetivos, a tempo e modo, de maneira a lhes assegurar, em
sua máxima potencialidade possível, seu desenvolvimento físico, mental,
moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade.
4. Por fim, a AJE-Brasil convoca os
órgãos do Movimento Espírita brasileiro (entidades federativas,
entidades especializadas e centros espíritas) e aos espíritas em geral, a
organizarem programas e serviços assistenciais voluntários destinados
ao acolhimento emocional e espiritual das gestantes que tiverem sido
infectadas com o vírus zika, bem como ao pleno desenvolvimento físico,
mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de
dignidade, dos filhos que vierem a nascer com eventuais deficiências
decorrentes da microcefalia.
5. A AJE-Brasil reitera sua convicção de
que a defesa da vida humana – qualquer que seja sua condição física ou
mental –, a empatia diante do sofrimento alheio, o acolhimento fraterno
às pessoas que enfrentam dificuldades em suas trajetórias existenciais e
a dedicação solidária ao próximo são lições consagradas pelo
Cristianismo e adotadas pela Doutrina Espírita codificada por Allan
Kardec, mas que caracterizam todo ser humano, independentemente de
denominação religiosa ou ausência de religião, como reverência à
dignidade humana e como expressão de incondicionado amor ao homem,
perfeito ou não.
Brasília, fevereiro de 2016.
http://www.febnet.org.br/blog/geral/noticias/nota-da-aje-brasil-sobre-o-virus-zika-e-a-microcefalia/
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